Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

HEITOR ALVES DE AMORIM

 

Nasceu no Pilar, Alagoas, Brasil, e faleceu em Maceió a 1 de novembro de 1907.
Jovem, solitário e pobre, foi talvez, a mais rica substância dos intelectuais da província. Senhor de seu destino, não se sabe, sequer, que, lhe foram os pais. Homem de tarefa, trazia na vontade de querer o próprio dever a cumprir. Foi tipógrafo num meio restrito à arte gráfica. Fez-se, porém, um conhecido do vernáculo, conforme as achegas proclamadas por João Ribeiro, em sua Gramática da Língua Portuguesa, ondo o filólogo contemporâneo coopera em elucidações pronominais, com o pseudônimo de Lauro Vitor.
Poeta da melhor polpa, seus versos reunidos em coletânea organizada por um polígrafo alagoano, foram extraviados no acervo das instituições culturais de Alagoas.
A fome, sus companheira inseparável, legou-lhe o testamento fatal da tuberculose, que o abateu aos vinte e um anos de idade, num curto-circuito fulminante. Era então praticante postal dos Correios de Maceió, percebendo o ordenado de oitenta mil réis.

 

AVELAR, Romeu de.  Coletânea de poetas alagoanos.  Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959.  286 p.  ilus.  15,5x23 cm.  Exemplar encadernado.  Bibl. Antonio Miranda  

 

        SONETO

Leiam-me agora, os que sofrendo muito amaram,
Que com os males do amor hoje reluto
 

                —Ninguém julgue dos males que o magoaram,
Que mais à prova, mais dá gosto o fruto.

Néscio, cuidei, por magos que passaram,
Que me o pranto dos olhos fosse enxuto...
Hoje, inda há pouco, os vi que se molharam
De novo, em choro descabido e bruto!

De alguém eu sei, alguém que já sua alma
À minha alma irmana; carinhosa
Estes meus versos ler-nos-á sem calma...

Que chore... e as bagas de seu pranto sagre-mas!
—Que é fortuna a quem vida houver cuidadosas,
Se os males pode inda lenir com as lágrimas.

 

 


VOZ REMOTA


Coração meu, por que murmuras
Em tão longínqua solidão?
Para que avivar amarguras,
Quando por si já vives são?
Sempre lembrar, a mal de nós —
Esse que ouvi, som de canduras,
E hoje remoto som de voz!...

       Chagas, eu sei, agras e duras
Em ti pungindo fundo estão:
Mas próprio é mesmo às criaturas
Em tudo haver consolação.
Se tais os males, se tais as curas,
Mata este mal que é tão feroz!
Dá-lhe de fortes ligaduras;
—Abafa o som àquela voz.

... Mas, ai de mim, digo loucuras,
Que louco eu sou, tendo razão!
Coração meu, se me torturas,
É minha a culpa, coração...
A causa eu sou das desventuras
De que padeces... e inda empós,
Clamo que és tu que te descuras,
Eu, que te fiz guardar-lhe a voz!

Não direi mais  que me amarguras,
Que eu mal mereço mais atroz...
—Ai, sem que ouvi, todo tremuras
E hoje remoto som de voz!


     

  ESPELHO PARTIDO

Noutro tempo, de certo, espelho velho e triste,
Invejado e feliz foste pelo que viste;
Por tudo quanto em teu cristal polido e raro
Se refletiu, talvez no carinhoso amparo
De uma alcova onde foste o sentinela amigo,
O constante vigia ao perfumoso abrigo
De um delicado ser, noiva, acaso, de um poeta,
De quem, vezes sem conta, assististe em secreta
E muda contrição, todas as rudes crises
Avivadas empós dos momentos felizes,
Quantas vezes, de certo, o teu cristal tivera
A volúpia de ver-lhe em franca primavera
Da carne, o corpo nu, deslumbradoramente,
Tal de ave presa de gozo, ao ver-se de repente,
Solta em manhã de sol...
Uma noite de sonhos,
Ao despertar exausta, olhos vagos, tristonhos,
Ela no alto te viu, tendo o cristal partido!
Que horror sentiu, em vendo refletido
O rosto!... Deformado a modo tal se achara
Que não mais consentira ali ficasse; para
O teu lugar um novo espelho era preciso
Com estes mesmos florões e com este mesmo friso...
O outro viera... E tu pra aí ficaste a um canto,
Sem poder nuca mais ver-lhe o rostinho santo;
E exposto à poeira, a tudo; abandonado, triste,
Vivendo da ilusão do que já refletiste,
Até lá uma aranha à poeirenta aresta
De um dos teus cantos, vejo, a tela urdindo, e presta
Toda a sua atenção e também outra aranha
Que os seus gestos ligeira e espertamente, apanha,
Através do cristal onde saudades, hoje,
Guardas do tempo extinto, o bom tempo que foge,
Levando-te o constante e delicado afago
De pequeninas mãos, delicioso e vago
Em ti, com as visões indistintas de um louco,
No mundo, velho espelho, há-de sempre ser pouco
O bem gozado, sempre; inda que a vida inteira
Ele não dure, a nós, uma breve carreira
Sempre há-de parecer; enquanto houvermos vida,
Enquanto dentro de nós, embora, enlouquecida,
Vibrar-nos uma artéria, haverá o desejo,
Palpitante, febril, como o primeiro beijo
Dado a uma mulher amada, em nós também vibrando.
Bem maior que o teu mal, de um ser no mundo atuando.
—Esse dos que nos dá na vida a Visão erradia
Seguem de um sonho — eterna e dolorosa via.
Vezes num estendal de eterna luz aberta,
Porém, quase que sempre, entre lianas aperta
De eterno desespero, o ousado caminhante,
Da tortura maior sob o terrível guante.
Sim, destes grandes é o mal. É certo que o mundo,
Ao contrário do bem, é sempre o mal profundo...
Não há negar, porém que essa tortura enorme
De viver perseguindo uma visão informe,
Mortifica inda mais, velho espelho partido,
Que a saudade que atua e sangra mais ao ouvido;
Esta é o ressabio atroz de um bem que se gozara;
Aquela, não; aquela, a essência tem mais rara
É impalpável.
Buscá-la é buscar o inatingível
—Vaga Turris Eburnea. E aos que, antevendo-a um dia
Se deixaram levar pela escabrosa via
Que ela aclarando vem este, aí, ao centro
Em meio à turba-multa estarão num deserto.
E a sós, ver-se-ão povoando a mundos bons e ignotos...
Sim, porque desde aí — nova espécie de lotos —
Eles serão na terra os incompreendidos,
—Martírio que não tem os espelhos partidos.

 

 

*

VEJA e LEIA outros poetas de ALAGOAS em nosso Portal:

 

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/alagoas/alagoas.html

 

Página publicada em junho de 2021


 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar